Fiz jornalismo porque sonhava um dia cobrir o Brasil na final de uma Copa do Mundo. O que eu não sabia é que realizaria esse sonho de toda uma carreira no meu primeiro ano de formado.
O Jornal da Tarde/Estadão me mandou para os EUA para cobrir o grupo com sede em Los Angeles: Estados Unidos, Suiça, Romênia e a Colômbia. Vi a favorita Colômbia cair diante dos americanos e a Romênia de Hagi brilhar.
Vi a Romênia eliminar a Argentina e a depois a Suécia derrotar os Romênia nós pênaltis. Então cobri a Suécia na derrota para o Brasil e fui ver o último treino da Itália antes da decisão da Copa.
Duas grandes questões estavam no ar: os dois craques italianos, Baresi e Baggio, teriam condições de enfrentar o Brasil? O líbero Baresi tinha rompido os ligamentos do joelho no começo da Copa, operou e voltou só pra jogar a final. Baggio tinha estiramento muscular na coxa, jogou a semifinal contra a Bulgária no sacrifício e mal conseguia correr.
Colei num jornalista veterano da Gazzetta Dello Sport que deu a letra: os dois iriam jogar. “O Baresi me falou: jogo sim, nem que seja meu último jogo da vida”. Cravei as duas escalações nas páginas do JT e Estadão.
O jogo era só meio-dia de Los Angeles. O motorista do ônibus fretado para a imprensa se perdeu no caminho e eu cheguei em cima da hora no Estádio Rose Biel. Perdi o show da Whitney Houston que rolou antes do jogo.
No caminho do centro de imprensa para as tribunas eu e o Luis Prosperi vimos duas notas de dólar caídas no chão. Cada um pegou uma. A dele era de 20 dólares. A minha, de 1 dólar. “Proporcional ao salário”, comentei.
A imprensa brasileira ficou junta, com os jornalistas cariocas mais acima e os paulistas mais abaixo na tribuna. Não tinha cabine, era sob sol a pino. O valor era infernal.
Começa o jogo, sai Jorginho entra Cafu, e os jornalistas cariocas começam a xingar o lateral do São Paulo. Em seguida, Bebeto perde gol, e os paulistas xingam o atacante ex-Flamengo e Vasco. E vai a xingação mútua jogo adentro.
Quando Romário perde um gol feito após passe de Cafu, a bancada paulista se levanta, olha para trás e vociferar todos os “meus” e “manos” possíveis para a turma do Globo e do Jornal do Brasil.
Chega a prorrogação. Viola entra em uma sacada genial de Parreira e incendeia o jogo modorrento. Mas não tem jeito. Duas horas de zero zero. Vamos aos pênaltis.
Quando o Baresi chutou o dele na Lua deu dó, lembrei da frase de ser o último jogo de sua vida. Mas quando Massaro foi cobrar, lembrei de 1982. “Esse aí é a cara do Paolo Rossi. Ele vai errar!”, falei. E Taffarel pegou!
Chega a vez do Baggio. Eu disse: “Vai acabar agora”. Peguei minha máquina com zoom 200, só com meia dúzia de poses no filme, e fiz a sequência de fotos:
1) Baggio ajeita a bola;
2) Baggio toma distância;
3) Baggio chuta muito alto;
4) Foto totalmente tremida e fora de foco!
Todo mundo se abraçou, paulistas e cariocas choraram juntos, 24 anos de espera, 24 anos de idade, um dia histórico na minha vida!
Depois de mandar todas as reportagens para a redação no Brasil fomos ao hotel da Seleção acompanhar a festa. Quando cheguei o clima estava bem tenso. Os dirigentes da CBF queriam mandar um #chupa geral pra imprensa paulista.
“Tetracampeão! Tetracampeão apesar daqueles f.d.p de São Paulo e do Estadão!”, gritava o presidente Ricardo Teixeira. O pau comeu logo em seguida entre jornalistas e cartolas, sob olhares assustados do Romário e do Dunga.
Só podia ser Brasil!